Municípios incorporam técnicas por meio de políticas públicas ambientais em prol dos recursos hídricos
Em grande parte do país o período chuvoso começa em meados de outubro, sendo agora a hora de definir estratégias buscando preparar a propriedade rural para as chuvas que virão. Joanópolis (SP) e Itanhandu (MG) são exemplos de municípios que adotam políticas públicas ambientais para incentivar os proprietários rurais a cuidarem dos recursos hídricos de suas propriedades.
Em Joanópolis, o edital do Programa Produtor de Água está aberto, prevendo a construção de barraginhas (bacias de contenção), Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), biodigestor, cercamento e plantio para recuperação ambiental. Além disso, o município também possui a ‘Patrulha Agrícola’, fornecendo serviços com preços subsidiados para atender os agricultores familiares, incluindo a construção de barraginhas nas propriedades. “A barraginha é uma técnica de conservação de solo, sendo escavada em dimensões que consideram o local e a situação encontrada na propriedade, buscando a contenção das águas de chuvas, captando o escoamento superficial que causaria erosão e carregamento de sedimentos para os rios, permitindo a infiltração no solo e assim a recarga do lençol freático.”, explica Mbatuya Medina, engenheira agrônoma da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente de Joanópolis.
Em Itanhandu, as construções de barraginhas também integram o Programa Produtor de Água, agora em sua terceira fase. Se as etapas anteriores focaram no cercamento de nascentes e áreas de recarga hídrica na região responsável pela captação para o abastecimento público do município, a fase atual contempla propriedades rurais de qualquer bairro da cidade. Stella Guida, Secretária de Meio Ambiente do município, ressalta que “para nós, esse programa é uma política pública ambiental importante. Queremos apoiar o proprietário rural no cuidado com os recursos hídricos do nosso município. É uma parceria em que todos saem ganhando”.
Pensando em propriedades rurais que ainda não participam de alguma política pública, o engenheiro agrônomo Luís Francisco de Rosa Macedo, de Pouso Alto (MG) recomenda ao proprietário começar pela análise do solo, entendendo de que modo a água é ou não absorvida, se está infiltrando ou não. Lico, como é conhecido, explica que quanto mais penetra no solo, menos a água provocará erosões e mais volume haverá nas nascentes. “Muitas estradas rurais acumulam água, sendo necessário o manejo para corrigir o estrago da enxurrada. Nesse caso, o recomendado é fazer pequenas valetas para a retirada da água, utilizando o enxadão e a pá mesmo, criando saídas de água no local. Mas se chegou nesse ponto, significa que a água não está penetrando no solo. Diante disso, o recomendado é fazer o manejo ecológico, a fim de evitar novos escoamentos superficiais. As técnicas de cordão de contorno (valetas em nível) ou barraginhas, nesse caso, são muletas para remediar o machucado, mas devemos curar o solo e fazermos a água infiltrar novamente”.
Segundo o engenheiro, em lugares com nascentes, o foco deve ser sempre o manejo das águas e do solo, para que haja uma boa infiltração, aumentando a vazão d’água e garantindo o recurso nas épocas de secas. “Onde há nascente, não recomendo soluções de armazenamento sem olhar a causa do problema. Quando nos conformamos com a falta de água, começamos a criar soluções que apenas amenizam. Deixamos de buscar a solução para sanar o problema original, que é a falta de água em abundância. Parece que o jogo está perdido”, conclui.
Lico considera as técnicas de captação de água de chuva como positivas para a propriedade, sendo importantes e viáveis, mas recomendadas para pequenas propriedades que não possuem água. “Existem formas de captar águas das chuvas, que são as pequenas barraginhas ou formações no relevo, sempre encaminhando para pontos de captação, mas essas servem melhor a pequenas propriedades. As captações também podem ocorrer pelas calhas das casas e cisternas, aproveitando-se bastante o período chuvoso”. Vale sempre lembrar que essa água não é considerada potável, podendo ser utilizada no plantio ou no uso doméstico, por exemplo.
Para as propriedades rurais médias e grandes, o caminho indicado é sempre o de cuidar do solo. “Essas práticas de contenção de erosão ou manejo de água de enxurrada são como soprar a fumaça e não apagar o fogo. É preciso olhar a origem, entender por que essa água não está infiltrando. O problema da água, na verdade, é um problema do solo”. Para isso, salienta o engenheiro, é possível utilizar técnicas de recuperação da fertilidade, que, além de ecológicas, são econômicas: “As técnicas de aumento da fertilidade física e biológica do solo são economicamente viáveis para o produtor, e o resultado positivo pode ser sentido em apenas um ano. A cobertura morta – as palhas protegendo o solo -, por exemplo, tem efeito imediato na temperatura do solo e na manutenção da umidade. Vale a pena testar e ver!”, conclui.